Os seis maiores bancos brasileiros respondem por cerca de 80% do total de ativos do Sistema Financeiro Nacional e estão entre os mais rentáveis do mundo. Mesmo assim, nenhum deles está entre os 50 maiores do mundo.
Porque isso é ruim para você
Internacionalização de economia exige bancos internacionais; crescimento da economia exige bancos grandes.
Se sua empresa quiser operar fora do Brasil, precisará de um parceiro bancário que, idealmente, opere no país de destino e no Brasil.
Mas a operação financeira cotidiana não é onde um parceiro bancário mais ajuda uma empresa em expansão internacional. Onde a parceria faz a diferença é na identificação, estruturação e funding de oportunidades de investimento – aquisições, joint-ventures, etc.
Bancos brasileiros podem avaliar este tipo de operação, de um cliente brasileiro, como menos arriscada do que um banco estrangeiro que está conhecendo pela primeira vez a sua empresa. (Supondo, é claro, que o banco brasileiro tenha o mesmo apetite e a mesma competência para este tipo de operação que o estrangeiro).
Mesmo que sua empresa não esteja empreendendo no exterior, o oposto também é verdadeiro: bancos brasileiros ativos globalmente trarão mais potenciais investidores e parceiros para conversar com empresas brasileiras em crescimento.
Contudo, vai demorar para que nossos grandes bancos atinjam este status de players globais crescendo apenas organicamente no Brasil. E o processo de consolidação do setor – que cria instituições maiores – também parece ter atingido sua maturidade.
Para crescer, portanto, os bancos brasileiros precisarão capturar ativos (capital) estrangeiro.
Pink and the Brain
Uma forma de conseguir isso é fazer o capital estrangeiro vir até aqui.
Com esse objetivo o setor criou, em 2010, a BRAIN – Brasil Investimentos e Negócios (http://www.brainbrasil.org), uma ONG que tem por objetivo tornar o Brasil o primeiro polo financeiro do hemisfério sul. A BRAIN é mantida pela ANBIMA, BM&FBOVESPA, FEBRABAN e mais 9 instituições privadas.
Um problema da BRAIN é que países não são polos financeiros – cidades são: Londres, NY, Hong-Kong.
Mas a tradicional ciumeira entre Rio e São Paulo, aliada à aversão do brasileiro a fazer escolhas difíceis, já está aguando a agenda da BRAIN.
De uma forma ou de outra, é muito improvável que iniciativas, ainda que muito positivas, como a BRAIN, façam vir muito mais capital para o Brasil do que viria de qualquer forma. O que atrai capital para uma geografia são as (boas) oportunidades de investimento – leia-se a formação bruta de capital. E a participação do Brasil na formação bruta de capital mundial é ainda menor do que nossa participação no PIB global.
Se a montanha não vem a Maomé…
A outra componente de crescimento dos bancos brasileiros terá de vir de sua expansão internacional.
Isso não será nada fácil. O ambiente brasileiro é bastante único: por um lado o varejo é um mercado muito competitivo. Bancos estrangeiros que queiram ser grandes aqui precisam necessariamente atuar no varejo, onde encontram enorme dificuldade de competir com nossos bancos. A fabulosa remuneração que os bancos obtêm dos fundos dos correntistas, no passado com a inflação e hoje financiando o governo, permitem investimentos no varejo que poucos bancos no mundo são capazes de fazer. Por isso um Santander, por exemplo, pagou tanto na compra do Banespa.
Por outro lado, se o varejo é um mercado muito competitivo, financiar o governo, com fundos obtidos no varejo, continua a ser um maná.
Parte desses resultados tem propiciado alguns movimentos iniciais de internacionalização de nossos grandes bancos.
O que já não é sem tempo, porque se os últimos movimentos da porção pública do sistema financeiro derem certo, é possível que os fabulosos lucros com renda fixa dos bancos privados caiam para patamares normais. E, nesse caso, manter as receitas e os resultados exigirá crescer fora do Brasil.
O que alavancar?
O que os bancos brasileiros podem alavancar, ao tentar penetrar o mercado de outros países?
A resposta mais imediata é o relacionamento com empresas brasileiras operando internacionalmente. Mas esse mercado é limitado e deixa de fora justamente a maior competência de nossos bancos, que é a atuação no varejo.
A experiência dos bancos estrangeiros no Brasil ensinou que entrar no varejo exige commitment e disposição de investir pesadamente nos mercados escolhidos. Compare o sucesso da estratégia do Santander, com a atuação pífia de um Citibank ou BBV.
Nada nas atuais iniciativas dos bancos brasileiros sugere, nem remotamente, essa disposição.
Será uma pena se, quando a fonte doméstica de lucros fáceis secar o mercado externo não esteja mais tão “barato” para se penetrar.