O ano de 2011 pode trazer boas notícias para os jornais diários, em tempo: enquanto a circulação paga de impressos continua a cair no Brasil e no mundo, a de edições digitais para ipads e e-readers deve crescer este ano, impulsionada pela popularização dos aparelhos, uma vez acertadas as combinações de preço e produto para assinaturas digitais e impressas.
Mas não é só isso: a migração dos assinantes para a versão eletrônica dos diários altera completamente o seu sistema de distribuição – eliminando a impressão e distribuição físicas do conteúdo – o que pode, por sua vez, alterar profundamente o próprio produto.
O que a distribuição digital muda para os jornais?
Historicamente, o próprio processo de impressão e distribuição física diárias acabaram confinando os jornais a uma atuação local, em uma cidade ou região, pois a expansão geográfica implicaria um pesadelo logístico diário.
Assim, há poucos exemplos de jornais com circulação nacional – nos EUA, os principais são o Wall Street Journal e o USA Today. No Brasil, os jornais econômicos circulam nas principais capitais do sudeste (ou seja, São Paulo, Rio de Janeiro, às vezes Belo Horizonte e Brasília), mas os gerais não ultrapassam as fronteiras de seus estados.
Não digo que a concentração local não tenha resultado em jornais bons e relevantes, com modelos de negócio interessantes, mas, por outro lado, sua publicidade tende a se limitar a anunciantes locais. Para veicular uma campanha nacional em jornal, um grande anunciante é obrigado a contratar – e gerenciar – múltiplos fornecedores, um em cada praça.
No ipad isso pode – e deve – ser diferente. Com exceção das redações locais, a produção e distribuição podem ser centralizadas, assim como a venda de publicidade, permitindo uma atuação nacional e elevando a escala da operação. A rápida penetração dos tablets e e-readers logo deve equiparar ou superar a do jornal pago, aproximando a edição digital aos volumes de circulação em papel.
Quais são as implicações imediatas deste cenário para os jornais?
Primeiro, e sempre, um conteúdo adequado, ‘enhanced‘ para a nova plataforma, independentemente do modelo de negócio. Além disso, na minha opinião, mais duas tendências para observarmos em 2011:
- Venda ostensiva de assinaturas digitais e estímulo à migração de assinantes de papel, monitorada de perto, para que a nova experiência de jornal seja adotada pelo leitor. Os modelos de precificação que quase “punem” o assinante digital, tão mais caras do que as assinaturas em papel, serão substituídas por “prêmios”, agregando a edição digital à de papel e levemente estimulando a migração.
- Consolidação de jornais locais, que já têm a sua estrutura em funcionamento, compondo novos produtos e empresas de atuação nacional, potencialmente até regional, especialmente no caso dos jornais econômicos
As plataformas digitais, há uma década, têm “balançado o barco” dos jornais, mais do que outras mídias chamadas tradicionais. De 2011 em diante, os tablets e e-readers serão a “luz no fim do túnel” dos jornais, que se transformarão e se consolidarão para prosperar nessa nova plataforma. Cabe às empresas jornalísticas reconhecerem e abraçarem essas oportunidades, pois já não há dúvidas da necessidade de mudanças no modelo daqueles que ainda estão de pé.