Artigo na Foreign Affair de dezembro/10 – O Continente Fértil – África, a Última Fronteira Agrícola – diz:
“Com um bilhão de pessoas já passando fome e a população mundial aumentando, a produção mundial de alimentos precisa aumentar urgentemente. Os países que realizaram este salto no passado – Brasil, China, Índia e os Estados Unidos – não podem fazê-lo novamente. Mas a África pode – se finalmente passar a usar as sementes, fertilizantes e métodos de irrigação comuns em qualquer outro lugar.”
Somente em Rwanda os EUA e outros doadores internacionais estão investindo US$800 milhões em programas de preparo da mão-de-obra local, para tratamento da terra e emprego de sementes melhoradas e fertilizantes – ou seja: o básico da agricultura moderna. O resultado esperado: dobrar ou triplicar a produtividade do milho, batata, feijão e arroz, já na safra de 2011.
O que o empresário brasileiro tem a ver com isso
Há pelo menos 8 razões porque empresários agrícolas brasileiros devem investir em projetos na África:
- A produção mundial de alimentos precisará crescer 70-100% nas próximas décadas, para sustentar o aumento global de população e renda. Fora isso, a pressão por produção de bio-combustível também demandará um crescimento equivalente nestas culturas. A tendência natural é que países de agricultura mais sofisticada e integrada ao elo industrial, como o Brasil, concentrem a produção de bio-combustível, deslocando as culturas de alimentos para a África. Estar lá é a garantia de participar de um mercado demandante e também um ‘hedge’ à concetração nas culturas de óleos e cana.
- As mudanças climáticas globais também aumentam o valor de um ‘hedge’ (diversificação) geo-climática. Enquanto os produtores americanos e de algumas regiões brasileiras terão que produzir com cada vez menos água, algumas regiões da África têm abundantes recursos hídricos praticamente inexplorados.
- Além disso, duas das populações que mais aumentarão sua demanda por alimentos – China e India – deverão ver sua produção cair 30-40% nas próximas décadas, devido à escassez de água. A África está melhor posicionada, para abastecer estes mercados do que o Brasil.
- Por serem ex-colônias, os países africanos gozam de isenção do imposto de importação na União Européia. Essa vantagem tributária já fez com que grupos como Odebrecht (ETH Bioenergia) e o francês Tereos (Açúcar Guarani) contruíssem usinas em Angola (ETH) e Moçambique (Guarani). Outros grupos brasileiros estudam o setor pecuário (engorda bovina), contemplando a mesma oportunidade (além do mercado local).
- A barreira cultural e política para brasileiros, em vários países africanos é bem menor do que, por exemplo, para americanos, chineses e europeus. Países como Angola e Moçambique falam português e apresentam os mesmos traços culturais (bons e ruins) da maioria das regiões brasileiras.
- Estes mesmos países – Angola e Moçambique – têm projetos agrícolas de grande escala, para os quais têm buscado colaboração brasileira. Nos próximos quatro anos a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a Embrapa (que já tem escritório em Maputo) investirão o equivalente a US$ 12 milhões em homens-hora, em um projeto de suporte técnico à agropecuária de Moçambique, orientado a uma área de 650 mil hectares.
- Enquanto os projetos em Moçambique são financiados pelos EUA (USAID) e Japão, projetos semelhantes em Angola são financiados pela China. O Brasil é um dos poucos países do mundo, capaz de (e convidado a) participar de iniciativas em ambos os lados do espectro político internacional.
- Ao contrário do agricultor europeu e americano, fixados em suas propriedades há muitas gerações, a tradição agrícola brasileira é de desbravamento de fronteira. Da cana, no século 17, à soja do centro-oeste de hoje, o empresário agrícola brasileiro aprendeu a transformar o território desconhecido em regiões econômicas pujantes, que só então recebem investimentos em infraestrutura. Esta é precisamente a vocação que o agronegócio no continente Africano premiará.
Por todas estas razões, 2011 pode ser o ano em que o empresário agrícola brasileiro começa a se aventurar na última fronteira agrícola do planeta.