Hoje a Amazon disparou um míssil sobre o mercado editorial: uma oferta de pagar 70% – SETENTA por cento! – do preço de capa diretamente a autores que queiram vender seus livros, em formato eletrônico, na livraria online, para serem “baixados” para o Kindle (o leitor de e-books da Amazon) ou para o iPhone, sem precisarem passar por uma editora.
Os royalties que os autores recebem das editoras costumam ser de 7% a 15%.
Em suma: a Amazon declarou guerra aberta aos editores de livros americanos.
Você adotaria essa estratégia de confronto direto ou preferiria uma estratégia de influência?
Cabo-de-Guerra
Por que esse conflito de vida ou morte entre a Amazon e os editores?
Como todos sabem, há pouco mais de dois anos a Amazon lançou seu leitor de livros eletrônicos, o Kindle, que já vendeu cerca de 2 milhões unidades.
Livros eletrônicos não precisam ser impressos, não precisam ser estocados, transportados, expostos em uma loja, entregues a domicílio… Deveriam, portanto, ser vendidos MUITO mais baratos, mesmo preservando integralmente a margem do editor.
Os editores americanos, contudo, recusam-se a vender os livros eletrônicos à Amazon por menos do que eles cobram (da Amazon e de outros compradores de grande volume) pelo livro físico, de papel. Realmente, não faz sentido. Por que os editores estão se comportando assim?
Por três razões:
- Eles temem que a Amazon perpetue-se como monopolista de livros eletrônicos e, no futuro, comprima a margem dos editores e capture todo o lucro da cadeia de valor. Eles “puxam o freio de mão”, esperando que outras livrarias eletrônicas surjam, para competir com a Amazon — o que, de fato, está acontecendo.
- Eles temem que, uma vez digitalizados, os livros sigam o mesmo caminho das indústrias fonográfica – praguejada pela pirataria e, hoje, refém da Apple/iTunes – e cinematográfica, igualmente sitiada por piratas.
- Eles temem que, se o consumo de livros migrar para o formato digital, qualquer um poderá ser editor e autores poderão se auto-editar, tornando as editoras empresas obsoletas, tal como está acontecendo com editores de jornais.
Durante quase três anos a liderança da Amazon vinha tentando contornar essas objeções e temores dos editores, sem sucesso.
Agora, vendo uma multidão de novos concorrentes invadirem o mercado, a Amazon decidiu partir para o confronto aberto, estimulando autores a by-passarem o mercado editorial e lançarem diretamente suas obras na livraria online, em formato eletrônico.
Veja o que diz o blog The Business Insider:
“As lamúrias da indústria editorial tradicional são de que os cortes nos preços de ebooks vão acabar com a pouca margem que sobra para as editoras, impedindo que os editores façam grandes adiantamentos aos autores e, assim, (tenham medo! tenham medo!) poucos livros bons sejam publicados.
Bobagem.
Se o livro ”Too Big To Fail” de Andrew Ross Sorkin custasse, digamos, $ 3,99, Sorkin iria vender centenas de milhares de cópias a mais do que ele vende com os preços de hoje ($ 29,99). Se Sorkin receber 70% do preço de venda ao invés dos atuais 10%, ele vai se dar muito bem. Ele poderia até ter recursos para pagar a um bom editor para desenhar uma capa e promover o livro para ele.”
Veja o que diz o anúncio da Amazon:
“A plataforma de texto do Kindle Digital é uma ferramenta fácil e rápida de auto-publicação, que permite a qualquer um carregar e formatar seus livros para venda na Kindle Store.”
Parece que Jeff Bezos, o fundador e CEO da Amazon, não teve outra escolha a não ser forçar os editores a negociarem pelo caminho da ameaça… Mas será mesmo verdade?
Paciência de Jobs
Considere os feitos quase inacreditáveis da carreira de Steve Jobs, fundador e CEO da Apple:
- Quando sua empresa estava quebrada, em 1997, Jobs convenceu sua arqui-rival Microsoft (que havia passado a última década esforçando-se justamente para quebrar a Apple) a: pagar US$150M por ações da Apple, SEM DIREITO A VOTO, desenvolver e distribuir o OFFICE Para MAC e comprometer-se a continuar a desenvolver novas versões e novos programas da Microsoft para o MAC!
- Em 2002/03 convenceu o setor lendariamente imobilista das gravadoras de música a deixá-lo vender faixas isoladas de discos, em formato digital, na Internet. O resultado – a iTunes Store – é responsável por 70% das vendas mundiais de músicas pela Web, já tendo vendido cerca de 7 bilhões de músicas
- Em 2006, convenceu a Disney a pagar US$7,4 bilhões pela Pixar, cujos filmes ela já tinha o direito exclusivo de distribuir, com uma margem muito maior do que a do estúdio de Jobs.
Comparando essa lista de proezas, com o desafio da Amazon, de seduzir o setor editorial, é difícil deixar de pensar que, se Jobs estivesse no lugar de Bezos, a atual situação não teria chegado ao conflito e todos estariam ganhando dinheiro juntos e felizes.
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E você, o que acha? Bezos optou mesmo pelo melhor caminho?
Dado que ele não é o mago da sedução, que Jobs é , teria ele outra alternativa?
Exite papel para “diplomatas empresariais” profissionais, que atuem em situações como essa?
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